quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Caso 'Maddie'

Editorial

Imperou o bom senso.
Ao decidir-se pelo arquivamento do processo e pela não culpabilização dos Pais da menina desaparecida, o Ministério Público veio simplesmente constatar o óbvio: a ser verdadeira a tese de morte por negligência em que os pais da criança estariam envolvidos, como é que eles, naturalmente angustiados pela perda da filha, conseguem, primeiro tomar a decisão e depois, com a ajuda de alguns amigos estrangeiros que não conheciam a zona, esconder o corpo da criança, em tão pouco espaço de tempo, de maneira tão eficaz que as sucessivas buscas não conseguem encontrar?
Para além desta, há muitas outras perguntas que a tese do homicídio por negligência, apadrinhada pela nossa Polícia Judiciária não consegue responder. Se os pais fossem responsáveis pela morte da filha, para que iriam alertar a comunicação social? Normalmente quem comete um crime, procura esconder-se.
Durante este ano que deve ter sido sobremaneira doloroso para o casal Mc Cann foram-se produzindo inúmeros debates, comentários, muitos deles de baixíssimo nível, com mentiras à mistura.
Um das muitas enormidades produzidas consistiu em dizer que os pais tinham montado um circo mediático. Mas alguém acreditará nisto?
Os media de todo o mundo estão ansiosos, por razões óbvias, por casos destes: aumentam-lhes as tiragens e fazem-lhes subir as audiências. Não precisam que ninguém lhes monte o circo.
Que o Papa não tinha nada que os ter recebido. Imaginem agora o que teria sucedido se Bento XVI, por dificuldade de agenda, não tivesse recebido o casal. Caía o Carmo e a Trindade!
Que os Pais não tinham nada que ir falar com o Pároco da terra, como se isto não fosse um direito que lhes assistisse e ao Padre uma obrigação.
Impressionava ainda a sobranceria, a roçar a arrogância, com que alguns fazedores de opinião e intervenientes em debates televisivos, falavam deste caso e como se alinhou numa disputa Portugal – Inglaterra em jornais e polícias. Salvaram-se, honra lhes seja, alguns advogados, psicólogos e pouco mais.
O canal de televisão britânico Sky News não se costumava referir aos jornais portugueses com a sobranceria com que os portugueses, nem todos diga-se, em abono da verdade, se referiam aos ingleses.
Duma coisa, porém, o casal Mc Cann não se pode queixar: de as nossas polícias não se terem empenhado seriamente no caso.
Seria bom que tanto caso de criança desaparecida tivesse tido o mesmo apoio. Uma Mãe portuguesa, de entre as várias que tinha tido o seu filho desaparecido, há vários anos, queixava-se amargamente de apenas ter tido apoio de dois agentes da P. J., durante 15 dias. Depois foi abandonada à sua sorte.
E à sua dor.
No meio de toda esta incomensurável tragédia que representa a perda de um filho e da desigualdade de tratamento que é dado aos diferentes casos, fica um aspecto positivo. Falou-se como nunca deste drama em Portugal e no Mundo e o próprio casal Mc Cann tomou iniciativas para que a resposta das autoridades a estes trágicos desaparecimentos seja mais célere.

Manuel Malvar Fonseca

Editorial d'O Leme' n.º491

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