sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Dois exemplos

Editorial

Costuma-se dizer que, nos “media”, só aparecem desgraças e maus exemplos. Nem sempre é assim. Recentemente os jornais e televisões falaram de dois casos que bem merecem reflexão.

Íngrid Betancourt
Esteve 6 anos sequestrada, pelas FARC (Forças Revolucionárias da Colômbia). Esta senhora, oriunda de boas famílias foi raptada, durante a sua campanha eleitoral para a presidência do seu país, a Colômbia. Foram anos muito duros, sobretudo os últimos três, a partir do momento em que tentou fugir, juntamente com outro prisioneiro e foi capturada. Chegou a estar acorrentada, pelo pescoço, 24 horas por dia.Não soube o que era água quente ou electricidade, durante aqueles 2.321 dias. Dormia no chão com dores atrozes, mas depois estranhou, quando após o cativeiro, voltou a deitar-se numa cama normal. A saudade dos filhos foi imensa. Deixou-os com 13 e 16 anos e reencontrou-os com 19 e 22. “Quase que sinto que não sou digna deles, que não tive nada a ver com o seu crescimento”, afirmou depois da libertação.
Houve momentos de grande desânimo que se seguiram às terríveis torturas a que os prisioneiros eram sujeitos: “fizeram-nos coisas tão monstruosas que eu acho que eles próprios ficaram enojados”, disse.
No meio desta terrível situação, qual era a força que segurava esta mulher á vida?
A Fé. A leitura da Bíblia era o seu alimento, na selva colombiana. Depois da libertação, ajoelhou-se no aeroporto de Bogotá, juntamente com a Mãe e outros reféns, e agradeceu a Deus. À revista colombiana “Semana” disse que a “imensa humilhação e sofrimento a ajudaram a polir a alma”.
Quando se vê e ouve falar esta Senhora, sente-se que a verdade lhe brota da alma, como a água da fonte. E tem um olhar humilde, límpido e verdadeiro.
Uma família de 9 filhos
A SIC, após o seu Jornal da Noite, do dia 14 de Julho último, fez uma extensa reportagem sobre uma família de 11 pessoas: Pai, Mãe e 9 filhos. Não é uma família rica. Vive com menos de 2 salários mínimos por mês.
Qualquer um dirá que tal façanha é impossível. Pois é mesmo verdade e as pessoas estão felizes. Respirava-se alegria e paz naquela casa.
Os três irmãos mais velhos já frequentam a Universidade, os cinco seguintes frequentam o Ensino Secundário ou Básico. Só a mais pequenina da família é que ainda está em casa com o “Papá e a Mamã”.
A grande festa, disseram, é quando os irmãos se juntam todos.
Uma família assim é o espaço ideal para aprender a soletrar a palavra solidariedade.
Os Pais insistiam muito com os filhos para que estudassem. E eles estudam e com aproveitamento.
Claro que sendo tantos os filhos, não há lugar para desperdícios nem para luxos. Um dos rapazes mais velhos dizia que nunca tinha ido a uma viagem de finalistas. E dizia-o sem mágoa. É naturalmente precisa uma grande ginástica financeira para equilibrar o barco. Só no início do último ano lectivo a família gastou 700 Euros em material escolar.
Onde está o segredo desta família? Haverá muitos. Mas olhando para a figura dos Pais começa-se a perceber… O Pai é uma serena e contínua presença trabalhadora. A Mãe que falava com uma grande couve na mão e um sorriso no rosto e uma irradiante paz. Dizia: “se calhar a minha vocação é mesmo ter filhos”.
Há algo de parecido entre estes Pais e a Mãe da primeira parte desta crónica. Irradiam paz e verdade.
O Profeta Oseias diz que Deus fala ao coração do homem.
Pais assim também nos falam ao coração.

Manuel Malvar Fonseca

Editorial d'O Leme' n.º490

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